Atos pró-Bolsonaro nas ruas, democracia sob tensão

Os atos pró-Bolsonaro realizados no último domingo (3/8) em diversas capitais brasileiras evidenciam um fenômeno preocupante: a persistência de um movimento político que, mesmo acuado pelas investigações judiciais, ainda consegue mobilizar uma base fiel — porém cada vez mais isolada ideologicamente. Ao invés de buscar diálogo com a sociedade mais ampla, o bolsonarismo reafirma sua natureza sectária e polarizadora, aprofundando a cisão política que fere a democracia brasileira.
A simbologia das manifestações
A presença ostensiva de bandeiras dos Estados Unidos ao lado das do Brasil, e a exaltação ao ex-presidente Donald Trump, configuram uma simbologia reveladora. Mais do que demonstração de gratidão, esses gestos escancaram uma dependência simbólica a um projeto político internacional de extrema direita, que pouco se importa com os interesses concretos do povo brasileiro. Essa estética “americanizada” dos protestos reforça a impressão de um grupo que abandonou qualquer perspectiva nacionalista genuína para se agarrar a slogans importados e retóricas conspiratórias.
Contradições evidentes
Outro dado que chama atenção é o caráter contraditório dos atos pró-Bolsonaro. Enquanto exaltavam Trump como aliado de Bolsonaro, muitos manifestantes ignoraram que o próprio governo norte-americano, por meio do republicano, impôs uma tarifa de 50% contra produtos brasileiros — uma medida que afeta diretamente a economia nacional e foi motivo de protestos nas ruas dias antes. A incoerência é gritante: agradece-se a quem prejudica o país, desde que o gesto sirva à narrativa de vitimização do ex-presidente.
Ataques às instituições
Os alvos principais dos protestos foram o Supremo Tribunal Federal e o presidente Lula. Sob gritos como “Magnitsky”, os manifestantes pediam sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, demonstrando que parte significativa desse movimento não compreende — ou despreza — os limites institucionais do Estado Democrático de Direito. A defesa da intervenção estrangeira sobre autoridades nacionais, ainda que simbólica, beira o antipatriotismo.
Força e isolamento político
É preciso reconhecer: há força política no bolsonarismo raiz. Mobilizar milhares de pessoas em diversas cidades exige estrutura, liderança e apelo emocional. No entanto, a base parece cada vez mais restrita ao nicho que o mantém vivo: cerca de 12% do eleitorado, segundo pesquisas. Fora dessa bolha, o movimento enfrenta resistência crescente, inclusive de aliados moderados. A ausência da maioria dos governadores nos atos é sintomática: muitos tentam se descolar do radicalismo, percebendo que o custo político de manter-se atrelado a Bolsonaro pode ser alto demais.
Um alerta para a democracia
O país precisa olhar com responsabilidade para o que essas manifestações representam. Elas não são apenas uma expressão de descontentamento, mas também um alerta: a democracia brasileira segue sob ataque simbólico e institucional. E enquanto houver espaço para discursos autoritários disfarçados de liberdade, haverá risco de retrocesso.
